segunda-feira, 30 de abril de 2018

BEIRA DE ESTRADA (93)


CURITIBA RESISTÊNCIA LULA LIVRE
Nas mais de trezentas fotos os dois dias deste bauruense passados em Curitiba na necessária resistência advinda de todo o país em prol do LULA LIVRE e pela passagem do Dia do Trabalhador, neste ano, sem muito o que comemorar, pois o golpe está só a danar com todos os direitos trabalhistas.

Na sequencia das fotos, a saída de Bauru defronte a sede da CUT, a chegada em Curitiba na manhã de 30/4, segunda, o acampamento Marisa Letícia, o barracão, a instalação de todos, o café da manhã coletivo, depois a caminhada até as cercanias da sede da Polícia Federal, cerca de 1 km e lá as primeiras impressões do lugar, tudo nesses registros fotográficos. Desde os vizinhos no apoio, as pessoas e o entorno com material sendo distribuído e vendido. Na noite desse dia, a ida até a praça Santos Andrade e lá a pré-estréia do filme/documentário "O Processo", com a presença dos senadores Lindberg, Requião e Gleice Hoffman.

Na manhã de terça, dia 1/5, Dia do Trabalhador, a ida do acampamento para as cercanias da PF, onde ocorre uma imensa aglomeração de pessoas vindas de todo o país e ali a demonstração da resistência em curso. Os gritos de "Bom Dia Presidente Lula" e "Lula Livre" enchem o ar de esperança. Nas falas que vão se sucedendo a toda instante, algo alvissareiro. Por volta das 11h30, a Marcha de 8 km até a praça Santos Andrade onde ocorre o Ato Show com artistas e intercalado com as falas das personalidades presentes. Na praça a militância advinda de todo o país se encontrma e a intensa troca de opções sobre os próximos passos de um movimento que não pode mais ficar somente em ida e vinda de lugares distantes, sem a tal da propositura transformadora, aquela que irá abalar os alicerces deste país e restabelecer sua normalidade enquanto nação soberana.

Por fim, a volta ao Acampamento e lá um algo mais com fotos de sua cozinha, uma organização impecável, a do "Chefe" gaúcho na administração do local e a despedida de Curitiba.

As demais reflexões virão a seguir tão logo assente a poeira da chegada e coloque as ideias no lugar. Estar junto desse pessoal todo na luta por um país melhor para todos é o que me move, ontem, hoje e amanhã. Na lida e na luta permanecerei enquanto forças tiver para empunhar o bastão da esperança. Para ver todas as mais de trezentas fotos clique a seguir: 
https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/media_set?set=a.2093127380717260&type=3 

HPA - chegando em Bauru SP, manhã de 02/05.

domingo, 29 de abril de 2018

UM LUGAR POR AÍ (107)


DIANTE DA BESTIALIDADE ATUAL, ME REFUGIO NO QUARTO DO FILHO - NÓS DOIS E ALGUNS LIVROS

Como é bom ter um filho pra chamar de seu e quando precisar dele, ele ali do seu lado com uma conversa das mais saudáveis, prazerosas e cheias de esperança. Que o mundo está de pernas para o ar, disso ninguém mais tem nenhuma dúvida. A perdição grassa como praga e mentes são contidas, poucos possuem ainda o discernimento e coragem para dizer e opinar sobre o algo mais rolando neste país. Estava assim ontem, querendo procurar um refúgio, um oásis, um lugar diferente, onde pudesse me sentir num solo mais firme. Eis que, assim do nada quem me liga, meu filho. Vou estar com ele.

Ele lá sentado em cima de sua cama com o computador ligado e pronto para ir rever sua amiga dançar no parque Vitória Régia, a querida Paloma Viotto, filha da Neli Maria Fonseca Viotto. Tínhamos uma hora de papo. Diante de nós a sua estante de livros, saio da minha realidade e entro na dele. Aquele mar de histórias ali diante de mim. Ele me diz dos últimos livros. Pega um HQ sobre a história do Gabo, de como ele foi construindo o cenário para os Cem Anos de Solidão e uma Colômbia, com suas pequenas cidades, algo que me encantou. Diz ter pago R$ 20 e o trata como rara preciosidade. Num outro olhar em suas crias (sim, os livros são nossas crias) ele me diz de um mestre que gosta demais, Antonio Candido e numa frase me apresenta três livros. “Certa vez perguntaram para ele se toda a historiografia sobre o Brasil fosse destruída, para escolher três livros a serem salvos. Ele escolheu três, Visão do Paraíso e Raízes do Brasil, ambos do Sérgio Buarque de Hollanda e Casa Grande & Senzala, esse do Gilberto Freyre”. Pego os dois tomos do Raimundo Faoro, Os "Donos do Poder", que lhe dei de presente e lhe digo nunca ter conseguido ler ambos por inteiro. “Nem eu, li o primeiro volume, muito denso, mas ainda os leremos juntos, são essenciais para se entender quem de fato manda neste país, ainda mais neste momento”.

Pego com o maior carinho o "Veias Abertas da América Latina", do Galeano e ele me mostra algo que gosta muito, dentro do que chama de Ciclo Indígena, cita três: o de memórias do conquistador Hérnan Cortez, o da conquista da América do Bartolomeu de las Casas e o "Enterrem meu coração na curva do rio", do Dee Brown. Ainda cita outra, o Viagem ao Redor do Mundo, do Júlio Verne, que segundo ele, “um primeiro contato com conquistas e indígenas”. Quanta coisa ele trouxe lá do mafuá e hoje vejo aqui, tudo lido e podendo comentar comigo. Que belo destino acabei dando para meus livros, muitos empoeirados lá na minha estante, correndo o risco do rio Bauru subir e levar tudo para profundezas inóspitas. Um deles me faz ter outra longa conversa, é o História dos Povos Árabes, em edição de bolso da Cia das Letras. “Pai, o Iraque, Bagdá e todo mundo árabe foram lugares de amplo conhecimento e cultura. Com a chegada do islamismo tudo foi se perdendo e a religião destruiu os avanços, muito maiores que os do ocidente”. Foi quando lhe disse, resvalando na religião, ser esse um dos motivos de nunca ter lhe imposto religião nenhuma, quando preferimos deixá-lo ele mesmo escolher a sua. Sua resposta foi dessas de fazer tremer esse velho macanudo: “Eu te agradeço muito por isso, pai”.

Ainda sobre esses conhecimentos que o Oriente possuía em muito maior escala que o Ocidente, me indica um filme, um com o Ben Kingsley, “O Médico”. Eis o link: https://www.youtube.com/watch?v=XW7o9qMzlX8. Diante de um mundo na Europa quando nas cirurgias embebedavam as pessoas para fazer os cortes, descobre a existência de um outro mundo, lá pelos lados da Pérsia e pra lá segue. Conhece o tal médico, descobre que já conheciam ervas anestesiantes, o mundo se abre e fica por lá até o momento em que vê tudo sendo destruído, os avanços que os seus desconheciam e a religião não permitia avançar, por lá a mesma coisa. Como as religiões atravancaram muito do progresso neste nosso mundo e muito mais sendo feito até hoje. Basta mudarmos um pouquinho de rumo na conversa e ao olharmos para fora da janela, a mesma coisa se repetindo.

Estava recarregado para poder sair pra rua e enfrentar um algo mais por mais um tempo. Sinto o mesmo quando me refugio no mafuá e me escondo junto aos livros e música lá existentes, isso me recarrega. Pelo menos isso consegui passar para meu filho e hoje, com minha mente cansada, ele que lê muito mais que eu, me ensina o que não tive tempo para ler. Descemos pra cidade, ele foi ver sua amiga dançar e eu fui para os braços da mulher amada. Os embates desta vida deixo para amanhã, quando estarei em Curitiba ao lado dos corajosos pondo a cara para bater na defesa de Lula e do que nos resta de dignidade. O filho não pode ir, mas eu irei. Embornal pronto e um bom livro na algibeira.

sábado, 28 de abril de 2018

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (100)


SE NADA OCORRER NO 1º DE MAIO DE BAURU, VAMOS CURITIBAR POR LULA E POR TODOS NÓS, OS TRABALHADORES QUE NUNCA ESTIVERAM JUNTO DESTE INSANO GOLPE
Leio no único meio de comunicação massivo impresso de Bauru, o Jornal da Cidade, edição de ontem que, pelo segundo ano consecutivo nada irá ocorrer lá no Parque Vitória Régia para marcar a passagem de mais um dia do Trabalhador, na terça, 1º de Maio. Eis o link da matéria: https://www.jcnet.com.br/…/1o-de-maio-sem-festa-no-vitoria-….

O espíritio para o trabalhador nunca foi de festa, mas de marcar posição e transformar o seu dia em algo onde possa refletir sobre os rumos dados para o Trabalho. Até dois anos atrás, numa parceria entre a Prefeitura Municipal de Bauru, que bancava os shows artísticos e a CUT - Central Unica dos Trabalhadores Regional Bauru, esses entravam com a organização total do que ocorreria durante o dia. Foram feitos eventos grandiosos e ocupando boa parte do dia, começando logo no horário do almoço e se estendendo até o show da noite. Todos possuem na memória, nesse formato ocorreram problemas e sindicalistas chegaram a ser vaiados pelo público presente, aguardando o show e não suportando a fala sobre o real motivo de todos ali estarem presentes.

Sim, concordo com o Itamar Calado, da CUT quando afirma não existir neste ano um clima para festa. Na verdade, o que deveria ter sido feito em todos os anos eram atos de resistência e de esclarecimento para a população. Não foi conseguido juntar o evento festivo com isso, não deu liga. Optaram pelos grandiosos shows. Hoje, nem um, nem outro. E Bauru fica de fora do roteiro de algo marcante para lembrar a população do dia do trabalhador. Diante das agruras repetidas que esses vem passando com o advento da chegada dos golpistas ao poder, o descalabro total para a classe trabalhadora e no desamparo, seria sempre de ótimo alvitre algo vir dos sindicatos, de quem representa e luta pelos direitos dos trabalhadores.

E já que nada ocorrerá por aqui, vamos ao que ainda é possível. Hoje a grande concentração nacional se dá em Curitiba, lugar onde é o cativeiro do ex-presidente Lula, junto ao prédio dos seus algozes, a Lava Jata e a Polícia Federal. Ao lado um grande e resistente Acampamento persiste em denunciar as barbaridades dessa prisão e tudo que a cerca. Milhares de pessoas não arredam pé de permanecerem ao lado do mais importante líder social brasileiro na atualidade. O grande ato de 1º de Maio será lá em Curitiba e aqui de Bauru sairá um ônibus com gente de todas as matizes. Nele estarei, saindo logo mais domingo à noite e só retornando após o show noturno do dia 1º, na prça Santos Machado, centro de Curitiba, com a pre4sença das cantoras Ana Cañas (levo meus dois CDs dela para serem autografados) e a sambista Beth Carvalho, que mesmo adoentada estará presente. No evento na capital paulista, uma vã também sairá de Bauru com destino para esse outro grande ato.

Eu, engajado no Núcleo de Base do PT, o DNA Petista ontem nos reunimos e confeccionamos mais faixas para serem levadas a ambos os atos e depois utilizadas aqui em Bauru em atividades variadas e múltiplas. Estar presente em Curitiba neste momento do cenário político brasileiro no palco dos acontecimento, Curitiba e ao lado do Acampamento pró-Lula é a pessoa não perder o bonde da História, ser verdadeiramente testemunha ocular da História, participando ativamente do que ainda lhe é possível fazer diante dos fatos adversos proporcionados pelos golpistas. Estar junto ao povo que resiste, que não tem medo de por a cara para bater, os que colocam o bloco na rua e enfrentam o touro á unha é algo a me encher de prazer e contentamento.

Estou prestes a embarcar para Curitiba e de lá gravarei tudo o que me for possível e ainda tento reproduzir gravações ao vivo para o melhor programa de rádio da América Latina, o produzido pela 750 AM de Buenos Aires, o La Mañana, com o Victor Hugo Morales, Gustavo Campana e Fernando Borroni. Se tudo der certo entro ao vivo e com algumas entrevistas feitas no palco dos acontecimentos, o 1º de Maio em Curitiba. Vamos para o palco dos acontecimentos.
Estou prestes a embarcar para Curitiba e de lá gravarei tudo o que me for possível e ainda tento reproduzir gravações ao vivo para o melhor programa de rádio da América Latina, o produzido pela 750 AM de Buenos Aires, o La Mañana, com o Victor Hugo Morales, Gustavo Campana e Fernando Borroni. Se tudo der certo entro ao vivo e com algumas entrevistas feitas no palco dos acontecimentos, o 1º de Maio em Curitiba. Vamos para o palco dos acontecimentos, onde alguns bauruenses já se encontram,m chegando lá das mais variadas formas possíveis, tudo com a mente voltada para um só objetivo: o país não pode mais ser dirigido por golpistas e da necessidade de se dar um breque no avanço da direita fascista. Nosso lugar é nas ruase nas lutas. Nas oito fotos aqui reproduzidas algo do encontro para confecção das faixas.

INTERVENÇÕES DO SUPER-HERÓI BAURUENSE (112)


BAURU E A SÍNDROME DO RELÓGIO ADIANTADO
Ontem foi lançado em Bauru um curta-metragem, totalmente produzido aqui, o "1896: Relógios Adiantados - O fim de Espírito Santo da Fortaleza", com algo dos primórdios desta cidade que até hoje a todos nos envergonha, mas sabido por todos, seguido à risca pela elite que se diz a condutora de nossa história. Quem explica bem isso é o intrépido super-herói bauruense, o Guardião, que ontem assistiu a paisana o filme e aqui comenta em primeira mão algo além do filme:

"O escândalo do relógio adiantado marcou tanto a cidade que foi institucionalizado como regra de conduta. Quem praticou o ato lá atrás, foi a elite de então, os barões da cidade, seus fazendeiros, que para trazer o poder para Bauru foram até a vizinha cidade de Espírito Santo de Fortaleza, alteraram o relógio e conduziram a reunião de mudança de rumos sem a presença dos locais. E depois aguentaram o rojão com os revólveres na cinta e nas mãos. Fatos de idêntica magnitude foram se repetindo ao longo do tempo, todos tendo como seus atores principais os ditos barões desta cidade, os que gostam da denominação de forças vivas", começa seu relato.

Passa a citar alguns desses fatos: "O fato mais recente é o da escandalosa aprovação da Lei do Silêncio e que proibe as festas populares na cidade. Os vereadores, numa atitude idêntica, vendo que a sessão seria tumultuada, casa lotada de estudantes, se fecham logo no início da mesma e em dez minutos promovem duas sessões, votam tudo, fecham a Câmara e batem em retirada. Essa a cópia mais exata, repetição de igual teor, comprovando a tese de como de fato são consumados e definidos os atos administrativos por parte de seus poderes", continua.

Por fim, relembra outros: "O caso do Residencial Pamplona é outra, quando para evitar dificuldades com o processo de aprovação aqui em Bauru, tudo é levado para a cidade vizinha, onde dizem tudo seria mais facilmente aporovado, só que as terras pertencemn a Bauru. E as terras onde hoje está implantado o mais famoso e luxuoso condomínio da cidade, todas públicas e esquentadas de uma forma ainda não explicada legalmente. A farra dos aditivos, um após outro, com empresas ganhando licitações e depois, pedindo descaradamente aditivos de grande vulto, todos aceitos. E agora mais uma, com a escolha do representante da Famesp, o que segura os gastos da Saúde municipal, como o cara que vai nos representar nessas questões. Ou seja, tudo é escolhido para travar os avanços sociais, algo muito parecido com a história do relógio atrasado. Vivemos essa sina", conclui.

LEMBRA DA HISTÓRIA DOS "RELÓGIOS ADIANTADOS" QUE MUDARAM A HISTÓRIA DE BAURU?
Uma turma de jovens querendo fazer cinema estreiam hoje dentro da Mostra Filma Brasil, algo que muito nos interessa, o curta-metragem dirigido por Paulo Eduardo Tonon, produção da MUV Films, o "1896 - Relógios Adiantados - O fim de Espírito Santo da Fortaleza". Isso faz parte da história engambelatória envolvendo os primórdios desta cidade, quando bauruenses foram até a vizinha localidade, adiantaram o relógio daquela Câmara de Vereadores, deram início a sessão de transferência de poder para Bauru e com essa maracutaia transferiram tudo para as hostes da hoje capital da terra-branca, terra também onde viceja o conceito de quem faz algo de salutar para enobrecer a aldeia é proveniente de uma tal de "forças vivas". A mesma prática foi sendo repetida década após década em muitos dos atos dos "donos do poder" local. O mesmo "agá" de ontem, serve como luva para ir traçando passos fundamentais na vida desta cidade ad eternum. Em forma de ficção, com atores bauruenses, vejo como imperdível ir prestigiar esse trabalho e participar do debate que ocorrerá na sequência. São tão poucas as oportunidades de se fazer uma boa e necessária discussão sobre como se deu de fato a história desta cidade e hoje algo mais do que alvissareiro. Vai ser no Teatro Municipal, 20h e com entrada franca. Bauru na telinha, ao vivo e a cores. No final se aparecer a legenda, "Qualquer semelhança com a realidade atual é obra de sua imaginação", não dê bola, pois é a mais pura verdade. Leiam isso para complementar o conhecimento sobre o assunto antes de assitir ao filme: http://muvfilms.com.br/curta-metragem-relogios-adiantados/.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (134)



ALGO PARA OS TRABALHADORES QUE FAZEM QUESTÃO DE MENOSPREZAR O PAPEL DOS SEUS SINDICATOS
Na edição nº 1000 da Carta Capital, essa semana nas bancas, um anúncio publicitário me chama a atenção. É o da CNM/CUT – Confederação Nacional dos Metalúrgicos e nele uma frase em letras garrafais: “Patrão adora trabalhador que não gosta de sindicato. É mais fácil de demitir”.

A propaganda me chamou a atenção, pois estava entalado até hoje com um diálogo que li coisa de um mês atrás, ocorrendo aqui pelo facebook entre um líder sindical, no caso o do Sindicato dos Jornalistas – Regional Bauru, Ricardo Santana e uma pessoa atuando num dos órgãos de imprensa da cidade e desdizendo abertamente de se sindicalizar.

Os sindicatos de uma forma geral pisaram bastante no tomate nos últimos tempos, muitos deixaram até de fazer a luta pelas quais deveriam viver (e morrer) e isso gerou uma geração de gente descontente e críticas generalizadas à atuação e até mesmo, em alguns casos, alguns atuando contra o próprio interesse de seus associados, no caso o do trabalhador. Esse não é o caso do sindicato citado, de comprovada atuação e dos mais vibrantes. Desse sindicato o último embate que o vi fazendo abertamente, de forma corajosa foi quando da suposta agressão que jornalistas foram vítimas (sic) quando se posicionaram ao lado dos seus patrões e contra o movimento Lula Livre, exatamente no dia de sua prisão. Numa nota o sindicato se mostrou contra qualquer tipo de agressão, mas também fez questão de ressaltar que o papel de muitos jornalistas não era o mais recomendável e quando assumem posições conservadoras e retrógradas, correm mais riscos, pois a crítica a esses é algo mais do que natural.

No caso do diálogo entre o sindicalista e um que se recusava a se sindicalizar, a nítida percepção da existência de muitos com a cabeça feita pelo patronato, com promessas mil, ou mesmo sem promessas, mas com benesses no seu dia a dia, isso o contentando e vislumbrando que isso possa continuar ocorrendo ad eternum, passando a agir na defesa do interesse que não é o seu e contra toda uma categoria profissional. Muitos desses (não sei se é o caso bauruense), nem registros em carteira possuem, trabalhando com meros contratos, alguns até de boca, free lancers em situação mais que precária, porém agindo pela aí com a mesma mentalidade do dono do negócio. Existe hoje uma parcela de trabalhadores renegando o próprio registro em carteira, quanto mais o fato de ter que recolher um valor para uma entidade que o vá defender. São mais realistas que o patrão e atuam contra o próprio patrimônio, mas quando questionados, estarão sempre prontos para apunhalar ainda mais o papel de quem os defende, no caso o do sindicato.

Não quero entrar em detalhes e muito menos estigmatizar ninguém, longe disto, só registrar o fato e ressaltar que hoje em dia, diante dessa barbarização dos direitos trabalhistas, algo nesse sentido anda sendo incentivado e deve ter aumentado sensivelmente a quantidade de gente nessa situação. A precarização da precarização da precarização.

E ALGO COM TUDO A VER:

"PRECISA-SE DE UM SINDICATO - Há um filme francês, “Dois dias, uma noite”, que conta a saga de uma mulher trabalhadora, demitida, e que precisa pedir a ajuda dos colegas para poder permanecer no emprego. A proposta do patrão é de que ela convença os colegas a abrir mão de um bônus. Assim, em vez de pagar o bônus aos demais trabalhadores ele a manteria no emprego. Uma perversidade. A mulher passa dois dias e uma noite indo de casa em casa, falando com os colegas, com toda a carga dramática que isso tem, afinal, cada família tem suas necessidades e precisa do bônus.

O filme é uma porrada. Mostra a solidão de uma trabalhadora, desguarnecida de tudo. Não há um sindicato, não há um apoio. Não há nada. Só ela e seu desespero individual.

Vivemos tempos assim. Poucos são aqueles que ainda têm ligação e confiança com seu sindicato. Os que ainda permanecem filiados o são por alguma benesse, como o plano de saúde, os convênios, ou coisa assim. É uma filiação ritual. Não se espera nada. Os sindicatos amargam uma fraqueza sem fim. Na UFSC, ontem ainda, pude comprovar a dor pungente de um colega que vive sendo massacrado no local de trabalho, sem apoio algum. Disse a ele: vá ao sindicato. E ele me olhou com olhos de profundo desespero. Não consegue ver no sindicato um espaço de acolhimento de suas demandas. Não confia. Não acredita.

Faz-se necessário parar e pensar sobre por que as coisas estão assim. Por que uma ferramenta tão importante da luta coletiva está tão desgastada? Por que as pessoas não acreditam mais na força da organização gremial?

Não estudo esse tema, mas penso sobre isso. E tenho algumas intuições. Nada é sistematizado ou científico. São impressões que jogo aos companheiros e companheiras para o debate.


Temos vivido muitas derrotas na atual conjuntura. Fomos às ruas gritando “não vai ter golpe”, e teve. Gritamos “não passarão”, aos formuladores da reforma trabalhista, e passaram. Uma a uma nossas batalhas foram sendo perdidas. E enfrentamos agora mesmo, em Florianópolis, a derrota das OSs. Temos acreditado demais nas instituições, na Justiça da classe dominante, na ordem do sistema. Ora, esse povo não está por nós. Está contra nós. E nosso grito de protesto tem se dado também dentro da ordem, na passeata arrumadinha, na difusão do mesmo velho discurso, que parece não tocar mais ninguém. Acredita-se que com uma postagem no facebook tudo esteja resolvido e a informação espalhada. As redes sociais tomam o espaço da presença. Não é suficiente.

O trabalhador está, como quase todo mundo nesses tempos atuais, mergulhado numa rede de luzes e bits, que emana palavras e sons, mas não deixa nada. E nesse turbilhão, perde muito das referências sobre a vida que se expressa no chão da rua. A solidariedade de classe não existe, porque a mais-valia ideológica prepara as pessoas para competir e não para amar.

Desde os tempos do governo Lula, quando o sindicalismo começou a se acomodar de maneira mais rápida, tenho apontado esses elementos. Um sindicato não pode esperar que um governo - mesmo que seja o seu – lhe garanta os ganhos. Sindicato é espaço de luta, de crítica, de reivindicação e de organização da luta de classe. Não se trata de conseguir uma coisinha aqui ou ali no campo corporativo. É necessário criar e fortalecer os laços com as lutas maiores, de toda a classe trabalhadora. E ainda que estejamos no socialismo, esse momento de transição, haveremos de ter críticas e demandas de classe. Não se pode acomodar, nem domesticar. O sindicato é faca afiada da luta, e se perde o gume, como fazer?

Posso ser apontada como uma velha senhora do século XX, mas ainda acredito na força do sindicato. Ainda creio que esse é um instrumento valioso de organização e de corporificação das lutas coletivas. Mas, não esse que vemos aí. O sindicato que precisamos é o que se reinventa conforme caminha a conjuntura. É o que aprende com os erros, o que faz autocrítica, o que inventa novas formas de luta a partir das novas demandas, o que surpreende, o que acolhe, o que forma para a batalha, o que se mostra e age como uma ferramenta da luta da classe trabalhadora.

O sindicato desses tempos tem de voltar a se conectar de verdade com os trabalhadores. Cara-a-cara, face e face, mas esse "face" como cara e não como "feice", de Facebook. Precisa vida sindical na porta da fábrica, na porta do jornal, do centro de ensino, na porta da loja, em cada setor onde tiver um trabalhador. Sindicato que é visto, que pode ser tocado, com dirigentes que escutam, que acolhem, que olham, que abraçam e dizem: “Não temas, estamos aqui”.

Eu vejo essa massa da nova geração de trabalhadores, os diaristas, os intermitentes, os informais, os que têm carteira assinada e morrem de medo de perdê-la, todos com esse olhar de desamparo. Temem e não acreditam que possa haver um lugar, ou alguém, que esteja com eles. E se pensarmos bem, não estão errados. O que se vê são dirigentes burocratizados, em cima dos caminhões de som, em momentos pontuais. Distantes, inacessíveis, intocáveis.

Os sindicatos são espaços que conquistamos a custa de muito sangue de companheiros e companheiras. Ele deve ser espaço de construção de lutas, lutas renhidas, ferozes, mortais, contra os “vilões do amor”, como dizia Cruz e Sousa. Mas, para isso, é preciso outro tipo de sindicalista, sem temor, sem expediente de horário comercial, entregue, comprometido, disposto a tudo. Esse é o drama. Ser alguém assim exige demais, e poucos estão dispostos.

Mas, se não for assim, acabaremos todos como aquela moça do filme francês: sozinha e desesperada na dor. No filme, o final sugere que ela venceu o drama. Mas, eu creio que não. Pode até ter saído daquela experiência mais forte como pessoa, mas não como classe. E a guerra contra o capital não se vence no plano psicológico, nem no plano pessoal. A gente vence coletivamente.

É o nosso desafio. Precisa-se de um sindicato. Sim, precisa-se! E já!

Alguém pode dizer que as lutas podem se fazer sem aparelhos, sem direção, sem hierarquia, como já mostram muitos movimentos vividos no Brasil. Eu digo: sou uma velha senhora do século XX. Não creio nisso. Movimentos são importantes e travam grandes batalhas, mas a classe trabalhadora precisa estar organizada, em todos os campos. E os sindicatos são estruturas perfeitas para essa missão", COLADO DE TEXTO POSTADO PELA PROFESSORA UNIVERSITÁRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, Elaine Tavares.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

DICAS (171)


A FEBRE DAS COMPRAS VIA INTERNET E O DESEMPREGO

Sou cliente da Jad Log, ali na esquina da Duque de Caxias com Antonio Alves desde os tempos quando tinha outro nome. Recebo mercadorias através deles quando o Sedex dos Correios fica naquele jeito desleixado e demorativo de efetuar entregas. Tempos atrás reclamava com eles da queda do serviço, evidente a olho num só de ficar com o carro parado no sinal ali em frente e olhar para dentro nas manhãs. Mera constatação. De umas semanas para cá me espantei com o movimento, pois toda manhã vejo o local cheio de caixas e até mais gente envolvida nas entregas. Bato os olhos com mais afinco e constato que o que é bom para eles é péssimo para a imensa maioria das lojas, principalmente as de departamentos, essas vendendo de tudo um pouco.

Explico. Ruim por um lado, mas bom para outro. Ruim mesmo é para o povo trabalhador. O que está em franca ascenção no comércio tupiniquim é o tal da compra de tudo pela internet. A porcentagem dos que compram mercadorias variadas e múltiplas, desde geladeiras, fogões, colchões, computadores, liquidificadores, pneus, estofados, etc é uma grandeza. Enquando cai a venda desses produtos nas lojas, ele só aumenta pela via virtual. A alegação principal é o preço que sai mais em conta e tudo por causa do pobre do trabalhador (tudo é culpa do danado), que tem seus custos a encarecer o custo final dos produtos. Para ter um preço mais barato, o consumidor não pensa duas vezes e compra sem ter que ir à loja. E dá-lhe aumento do desemprego. Leio serem ressaltados as vantagens da tal modernidade e isso coisa de um alvissareiro futuro, onde não será mais necessário sair de casa para as compras, sejam elas quais forem. Comodidade, praticidade e ganho de tempo. Será?


Eu ainda não assimilei muito bem isso tudo. Gosto demais desse contato com o vendedor, com o ir na loja, tocar e testar o que quero comprar. Sei que o trabalhador precisa do emprego e que a roda não vai fechar com o aumento do desemprego. Vejo mais gente trabalhando lá na empresa de entrega, mas vejo a loja cada vez com menos vendedores e se comparar um com o outro, com certeza, teremos muito mais gente sem emprego. Diante deste insano mundo capitalista, doente por natureza, seria ótimo a gente tratar isso do ócio, de se trabalhar menos e manter o ganho, mas no espírito neoliberal vigente, com a exploração na ponta dos cascos e a mentalidade da elite deste rincão varonil cada vez mais doentia, a probreza só aumenta e sem perspectivas. Isso que abordo aqui para o debate é só a ponta de um imenso iceberg. Outros tantos danam com a nossa vida e não se sabe bem como se resolverá esse imbróglio do homem em busca de emprego e sem ter o que fazer, sem ter ganho e com família, gastos mensais. A cabeça funde e para fazer uma loucura um pulo. Futuro sombrio.


E TUDO A VER
O LULA LIVRE E O PENSAMENTO DE ANTONIO CÂNDIDO LEMBRADO POR DILETO AMIGO:
Advogado Marco na lida desde sempre

Hoje quem sai aqui clamando (não seria melhor exigindo?) pelo LULA LIVRE e contra os desmandos dos golpistas no poder é o intenso batalhador das boas causas, anos luz de referência na resistência, o advogado Marco Antônio Souza, um que dia após dia batuca em seu facebook algo mais do que interessante sobre a crueldade que estão a fazer com o país. Ontem ele lindamente reproduzia um texto para endoidecer gente sã de alegria e contentamento: "Antônio Cândido, ao ser perguntado se era socialista: Ah, claro, inteiramente. Aliás, eu acho que o socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo. E não é paradoxo. O que é o socialismo? É o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo. Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo. Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado. Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo… tudo isso. Esse pessoal começou a lutar, para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças. Coisas que hoje são banais. Conversando com um antigo aluno meu, que é um rapaz rico, industrial, ele disse: “o senhor não pode negar que o capitalismo tem uma face humana”. O capitalismo não tem face humana nenhuma. O capitalismo é baseado na mais-valia e no exército de reserva, como Marx definiu. É preciso ter sempre miseráveis para tirar o excesso que o capital precisar. E a mais-valia não tem limite. Marx diz na “Ideologia Alemã”: as necessidades humanas são cumulativas e irreversíveis. Quando você anda descalço, você anda descalço. Quando você descobre a sandália, não quer mais andar descalço. Quando descobre o sapato, não quer mais a sandália. Quando descobre a meia, quer sapato com meia e por aí não tem mais fim. E o capitalismo está baseado nisso. O que se pensa que é face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue. Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias… tudo é conquista do socialismo".

terça-feira, 24 de abril de 2018

AMIGOS DO PEITO (145)


A DUREZA DAS RUAS ESMIUÇADA EM DUAS HISTÓRIAS

1.) O CASAL JOÃO E MARIA SÃO CATADORES DE RECICLADOS E VENDEDORES DE MIUDEZAS NA FEIRA DO ROLO
Eu adoro ir na Feira do Rolo bauruense, a versão da aldeia onde resido do Mercado das Pulgas, algo existente mundo afora. Bato cartão todo domingo e não me canso de repetir: "Hoje o espaço mais democrático desta inusitada e desorientada cidade". Estar por ali nas manhãs de cada novo domingo é para mim a renovação do oxigênio, tão necessário para conseguir sobreviver nos restantes seis dias da semana. Quando por alguma cargas d'água deixo de lá comparecer, sinto me faltar algo. Nas idas e vindas, algo me envaidece e enche de orgulho este que aqui batuca essas mal traçadas: o fato de ser reconhecido e chamado para conversas ao pé do ouvido. Não existe nada igual de você estar perambulando debaixo daquele escaldante sol e uma voz te chamar: "Ei, você não é o professor, aquele que a gente estacionava o carro defronte sua casa e nos dava água todo dia, além de puxar conversa?". Sim, sou eu.

JOÃO E MARIA não gostam muito de dizer seus nomes, nem de ficar dizendo o bairro onde moram. Gente das camadas mais simples não estão acostumados a terem seus nomes escritos e reproduzidos pela aí e ficam tomados de desconfiância diante de alguém querendo saber seus nomes, idade, lugar onde moram. Minha intenção é a de enaltecer o que fazem, enchendo as ruas bauruenses de vida. Respeito a ambos, muito mais do que os barões desta vil cidade. Na feira dominical paro para comprar uns livros espalhados num plástico esticado no chão e eles me reconhecem. Tinham uma velha Brasília e estacionavam durante o dia num terreno defronte minha casa. De lá, tinham fixado com uma corrente com cadeado, um carrinho de reciclados e com eles circulavam pela cidade o dia todo em busca de material servível. No final do dia apareciam com o carrinho cheio, tomavam água, conversávamos e saiam com ele atrelado como uma carretinha até o ponto de venda. Um dia roubaram o carrinho e o acharam dias depois nas mãos de uns nóias. O recuperaram, mas perderam a confiança de deixá-lo no local de antes, junto aos trilhos e beirada do rio Bauru. Sumiram do pedaço. Fui revê-lo tempos atrás com outro carrinho cheio numa esquina desta aldeia e me contaram continuarem fazendo o mesmo de sempre, mas agora com uma espécie de autêntica carretinha, comprada com muito custo. Neste último domingo, os reencontro na feira. Foi uma gostosura o papo e o convite para passarem lá por onde moro, compro uns livros e até uma moldura de quadro. Como recolhem muita coisa pelas ruas, resolveram vender algo que consideram úteis para outros e assim ampliar a renda. Sempre juntos, queimadíssimos de sol, sorridentes e cheios de ricas histórias dessas ruas e seus entornos, algumas alegres, outras nem tanto, mas todas recheadas de muito calor humano. Pessoas como eles me revigoram para tudo o mais.

2.) SORVETEIRO JOSÉ PRATICAMENTE RESIDE DEFRONTE O SESC BAURU
Ontem escrevi aqui de um casal vivendo com o que recolhe pela cidade de sucatas e da desconfiança desses em ver seus nomes citados em publicações. Temem que qualquer tipo de mera citação lhes cause problemas, perseguições e admoestações gratuitas. Vivem na defensiva, praticamente desconhecendo qualquer tipo de legislação que possa lhes defender. São tantos na mesma situação. Vivem precariamente, inventando seus ofícios, o trabalho na calçada, na beira da sarjeta e deles fazendo sua sobrevivência. As histórias se repetem e em muitas o mesmo sentimento, o de desconfiança diante de uma aproximação, de querer saber algo mais de suas vidas. Ela já é tão dura e, por fim,quem seria esse se interessando por ela? Coisa boa não deve ser.


O sorveteiro defronte o SESC todos que frequentam o lugar conhecem. Se está ali tempos depois da abertura e inauguração do prédio é algo que poucos sabem avaliam com exatidão, pois são décadas de calçada. Começou com um simples carrinho de sorvete e hoje, para tentar ampliar os ganhos, anexou algumas ciaxinhas com doces variados, desde chicletes, paçocas e afins. Seu José é figura por demais conhecida no lugar. Quem o acompanha ali na calçada sabe avaliar o que venha a ser as agruras de um incessante trabalho sob os efeitos do sol, chuva e frio. A sua fisionomia é de cansaço, mas ele resiste, bravamente e em todos os dias ali se apresenta, imponente e oferecendo calado seus produtos. Não é dado a ofererer nada, chega, coloca seu carrinho embaixo de uma árvore (ainda bem que ela ali está), senta num banquinho e fica esperando seus prováveis clientes, com aquele olhar distante, vagando para não se sabe aonde. E se ali continua, o motivo é um só, eles existem, voltam. Poucos param para puxar uma conversa, talvez até por causa de seu jeito introspectivo. É mais que um mero personagem desta cidade, um digno trabalhador, um que ao se ver sem possibilidades de encontrar algo mais rentável, como um emprego fixo, encontrou esse ponto, até então livre e nele se fixou, fincou raízes e tem receio de que o tirem dali. Estar num lugar nas ruas nem sempre é algo resolvido no sistema de "paz e amor".Virou uma marca do SESC Bauru, daquele lugar, mas existente por todos os lugares, ocupadas por gente com a mesma disposição do seu José. Impossível passar pelo local e não notá-lo e se sensibilizar com sua insólita presença.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

MEMÓRIA ORAL (223)


O QUE É SER 'CARTA CAPITAL'? - A OUSADIA DO NÚMERO MIL*
* A edição nas bancas é a de número mil e no link a seguir, o que já escrevi sobre eles no blog Mafuá do HPA (históricahttp://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=carta+capital) e abaixo a carta na íntegra enviada a eles. Um resumo dela sai publicada na histórica edição:


Descobri Carta Capital pouco antes dela tornar-se semanal e dela não mais me separei. Cheguei a procurar as edições anteriores, consegui algumas e as guardo como preciosos troféus, prova inconteste de uma imprensa livre e soberana neste ambiente tupiniquim. Ela não é única, outras existem com a mesma disposição e garra, mas representa para mim, na exatidão do termo, o que venha a ser uma atuação dentro da verdade factual dos fatos. Poucos persistem e insistem em seguir por essa linha mestra do Jornalismo, diria que, daria hoje para contar nos dedos de uma das mãos.

Acompanhei e conto com detalhes todas as batalhas onde CC esteve envolvida e tudo o que lhe aconteceu por não se vergar. A gradativa perda de anunciantes é só a ponta do iceberg. Sofreram e sofrem muito com a quase obrigatória seletividade destes. Praticamente obrigado a se manterem distantes das páginas da revista, sob pena de no mínimo sofrerem perseguições fiscais. Num lugar onde tentam impor o pensamento único como única alternativa possível para este mundo, os propositores de algo ao contrário devem padecer até a falência, sem dó e piedade. Os governos de Lula e Dilma mesmo distribuindo a verba publicitária de forma bem desigual, o fizeram para todos e, desta forma, CC recebeu o seu quinhão. Mesmo infinitamente menor do que todos os órgãos que crucificaram os governos populares, só por receber algo foram tachados de “chapa branca” pelos insanos, sempre prontos para ataques desqualificados e fora de qualquer propósito.

Quem tem a pachorra de denominar CC de prática de jornalismo “chapa branca”, no mínimo é movida por muita má fé. Se assim o faz, em primeiro lugar, nunca deve ter lido, pois se o fizesse saberia das críticas feitas ao Governo Lula e Dilma pela revista. Mino Carta, seu editor chefe não se cansa de afirmar dos erros do PT, principalmente no fato de ao terem chegado no poder agirem da mesma forma de tudo aquilo que tanto criticava. Criticar é uma coisa, mas usar de má fé, ser desleal e fugir das normas mínimas de um jornalismo responsável, isso a revista não faz. Deste erro ela não pode ser acusada. Não pratica o jornalismo criminoso hoje em voga no país.

CC paga o preço por não se desviar da verdade factual dos fatos. Além dos já citados se viu obrigada a reduzir seu quadro de funcionários. Sempre trabalharam com um quadro enxuto, porém isso se acentuou. Primeiro devido a crise global, depois outra, a dos meios de comunicação impressos e, por fim, a situação do país pós-golpe, onde o medo passou a fazer parte do cotidiano brasileiro. Diante da maioria da mídia ter aderido ao golpe, ou mesmo fazer parte dele, outra aderiu de cara e quem resiste é duramente penalizado. Desde a chegada do ilegítimo Michel Temer ao poder, via esse escandaloso golpe ainda em curso, a revista não recebeu mais nenhuma verba publicitária advinda do Governo Federal. A regra em curso, nada democrática é “tudo para os amigos e para os inimigos o fogo do inferno”. A revista resiste, não só tendo aumentado o número de leitores e assinaturas, motivado por constantes campanhas, mas “até as pedras do reino mineral sabem” ser quase impossível tocar um projeto da envergadura de uma revista semanal somente com a venda em bancas. A agrura e resistência é algo que vejo sendo repetido desde o início por Mino Carta e os seus: “a editora Confiança sempre atuou com um orçamento apertado, pouca gente em seus quadros”. Resistem como podem, mas o fazem maravilhosamente aos olhos de quem sabe o que está em jogo e como o jogo é jogado.

Seu conteúdo é único no mercado editorial brasileiro. Afirmar ser a melhor revista semanal brasileira é o mínimo, mas ela representa muito mais para todos os que buscam um jornalismo isento, feito com “sangue, suor e lágrimas”. Quem como eu, compra semanalmente a revista em bancas somente vagamente imagina o grande esforço que é o de colocar a mesma nas bancas de todo o país e nas condições atuais. Corro para as bancas no domingo pela manhã e solto aquele suspiro de satisfação ao vê-la ali exposta, pois sei da luta travada. Compro uma para mim, outra para meu filho, em bacas diferentes e assim, além de valorizar o jornaleiro, converso com outros que saem de suas casas somente para comprar a revista. Somos uma legião de abnegados apaixonados por CC na cidade. Por algumas semanas ela não chegou aos domingos e o jornaleiro sabe que, sendo leitor de CC ele não leva nenhuma outra e volta para buscar ela no dia em que chegar. O das demais não possui o mesmo espírito.

E por que a lemos? Simples. Existe uma parcela significativa de leitores cansada de encontrar o mesmo pensamento, a mesma linha editorial em quase tudo hoje no mercado editorial brasileiro. Quem resiste, além de fugir do batidão do tacanho pensamento único, sabe possuir um público específico, ávido de leitura que o ajude a transpor esses tempos. Essas publicações têm rareado. Muitas publicações fecharam as portas e dentre elas cito duas, Caros Amigos e Brasileiros, ambas mensais. Diante daquela imensidão de revistas e jornais expostos diariamente nas bancas conto nos dedos de uma só mão o que ainda me traz nesses lugares. CC traduz uma linha de pensamento que sabe residir no jornalismo honesto sua sobrevivência e longevidade. Enquanto a maioria busca leitores de outras formas, ela se esmera em manter e buscar novos ousando e se mostrando como uma alternativa possível. E, confesso, é mesmo um luxo diante de tanta perversidade, ainda poder desfrutar da leitura de algo tão palatável. O bem que sua leitura me proporciona é inenarrável e sei, os momentos que passo a devorando são para mim revitalizantes e fonte de muita saúde, mental, psíquica e também física.

Eu tenho histórias para contar sobre esses tempos vividos juntos com a revista, lado a lado, parceira de todas as horas. Tenho até textos publicados em suas páginas, o que me envaidece, pois na qualidade de simples leitor, submeto alguns e os tenho aprovados. Um luxo de valor inestimável. Converso com a revista desde muito tempo. Certa feita consegui trazer o jornalista Mino Carta para fazer uma palestra em Bauru, idos de 207, na abertura de um encontro, o OLA – Observatório Latino Americano. A partir de então o contato só se estreitou. Num desabafo feito em um duro período de minha vida, disse estaria interrompendo a leitura semanal por problemas financeiros e numa deferência especial, recebi graciosamente uma assinatura semestral. Tive o prazer de ter num editorial do Mino, a reprodução de uma carta minha quase na íntegra e hoje a tenho emoldurada na sala de casa, como o meu primeiro texto publicado numa Brasiliana, o “O anti-Bush ao vivo”, 2007. Tenho outro orgulho, pois quando da morte do Sócrates, colunista de Esportes, enviei a sugestão de no seu lugar ser convidado outro médico e ex-jogador, Afonsinho e não me contive de contentamento ao vê-lo assumindo o posto.

São tantas coisas. Tento me lembrar de mais algumas. Numa delas, Sérgio Fleury (não o torturador), editor de um jornal semanal do interior paulista, Santa Cruz do Rio Pardo estava para ser condenado a pagar indenização milionária pelo simples fato de ter revelado as condições de favorecimento do juiz da cidade e este lhe impôs uma multa que, certamente fecharia seu negócio. O caso virou tema nacional e enviei texto para a revista. Mesmo não publicado, mas com trechos incluídos numa matéria sobre os abusos dos que pretendem acabar com o livre exercício da profissão, com foto de minha autoria, Sérgio foi finalmente absolvido e reconhece como fator preponderante para tanto o que saiu publicado na revista. Em outro momento, depois de intenso relacionamento nesses anos todos, quando a revista decide instituir uma efetiva parceria com seus leitores, com espaço no site, no evento se lançamento, um que contou com palestra de Ciro Gomes, sou ilustre convidado e na primeira fila no teatro.

Envio regularmente cartas, muitas delas publicadas, sugestões, críticas e em algumas vezes, sei encher a paciência do Sergio Lirio, diretor executivo com tanta escrita chegando via e-mail e aos seus cuidados. Tenho essa vontade interior de participar, de dar o meu quinhão de contribuição e daí, escrevo, instigo e tento participar ao meu modo e jeito da construção da melhor revista deste nosso mundo. E como não gostar de CC? Impossível para alguém como eu, amante do jornalismo sadio e feito baseado na verdade dos fatos. Desde que me conheço por gente leio e muito. Aos 13 anos já lia o Pasquim, colecionei e até hoje tenho vários dele aqui em casa. Li até o Jornal da República e tudo o mais que me caia nas mãos. Já li todos os jornalões, mas abdiquei, assim como as demais semanais. Quando a imprensa preferiu seguir os passos do pensamento único como mola mestra, perdeu o fio da meada e foi abandonada por quem tem no mínimo um pouco de noção e de bom senso.

A revista não faz a defesa de Lula simplesmente por ser Lula quem é, mas pelo fato, mais do que explícito, da grande sacanagem urdida para leva-lo às grades e sem direitos legais de disputar uma eleição praticamente ganha. Que outra revista possui a coragem de num editorial, como o desta semana, palavras de Mino Carta, dizer algo dessa lavra? Antes de reproduzir sua fala, concluo: nenhuma outra. Eis o que Mino escreve e referendo em gênero, número e grau. Sobre os que estavam no Sindicato e propunham a resistência: “Ao contrário de muitos figurões petistas, aquela gente não acredita em conciliação, como sucedâneo do célebre jeitinho brasileiro, forma lamentável de conduzir a vida ao sabor de arreglos por debaixo do pano”. Sobre a ida de Lula preso: “Quando vi Lula sai8r do helicóptero pousado no teto da sede central da PF curitibana, descer uma escada à vista de assistentes divididos em dois grupos distintos, enquanto fogos iluminavam a noite a saudar o desastre do País, e o vi sair de cena a caminho da cela, imaginei cidadãos conscientes a caírem em profundo desconforto igual ao meu, diante de tanta prepotência e insensatez”. Sobre o que ainda está por vir: “Arrisco-me a dizer que dias piores virão. Precipitamos no abismo e a queda não promete um pouso feliz”. E a coragem de apontar de quem deveria ter partido uma reação: “...o Supremo poderia ter impedido não este apenas, mas o espantoso retrocesso provocado pelo golpe de 2016, o mais grave e insano sofrido pelo Brasil, ao qual a inquisição de Curitiba e Porto Alegre ofereceu uma contribuição decisiva”. Sobre os que rodeiam Lula hoje: “Esta é a Justiça de um país abandonado ao seu destino ao apr5e3sentar o rosto que merece. Dia 6 de abril não me escapou no sindicato, muito ampliado em relação àquele de 40 anos atrás, o comparecimento de vários hipócritas e diversos incompetentes, maus conselheiros para quem lhes dá ouvidos”. E por fim do PT: Aparadas algumas arestas, seria um partido indispensável à evolução do País e do seu povo. Pelo caminho perdeu o ímpeto e a determinação”.

Faço questão de citar Mino, mas poderia fazê-lo com qualquer outro dea revista, como Nirlando Beirão, Sergio Lirio, Mauricio Dias, André Barrocal, René Ruschel, Luiz Gonzaga Belluzzo, Carlos Drummond, Antonio Luiz M. C. Costa (sabe tudo de política internacional, ótimo), Pedro Alexandre Sanches e outros. Os colunistas, um dando sequência a outro. Sem tirar nem por, uma revista magra no número de páginas, mas rica, gorda de conteúdo, algo que extrapola, tornando-a algo de inquestionável valor, ainda mais para o momento em que vivemos. O time já esteve com mais nomes, alguns sairão, outros se foram ao longo do tempo e pelos mais diferentes motivos, mas o leitor percebe que a qualidade é mantida, meio a fórceps, pois não deve ser nada fácil manter algo com o mesmo nível diante de circunstâncias tão adversas.

Eu tinha que escrever isso para a revista nesse momento da milésima edição. Na verdade, eu queria escrever muito mais, pois creio não consegui nesse imenso arrazoado tudo o que queria exprimir sobre esse sentimento que sinto em encontrar nas bancas a cada domingo uma nova edição de CC e com ela seguir a semana, lendo cada texto com um ardor incontrolável. Não me canso de repetir, a revista neste momento é um oásis diante da mediocridade reinante. Ela sabe que, assim como eu, muitos necessitam de algo assim para se fortalecer para as adversidades que estão aí à nossa frente. Podem me dizer o que quiserem da mídia impressa, leio muita coisa pela mídia virtual, mas nada como ter a revista em mãos e nela encontrar o que necessito para continuar botando o bloco na rua. Para mim, a revista possui algo mais, ainda de difícil explicação, um amuleto, uma espécie de necessidade semanal, só preenchida com sua leitura. Eu sei de todas as dificuldades pelas quais a revista passa e mesmo não sendo religioso, boto fé que eles possam ser superados, pois devem existir abnegados como eu, que não desistirão de reunir forças e fazer de tudo e mais um pouco para que algo assim não feneça jamais.

Aguardo ansioso a chegada do 1000º número e mesmo desalentado com tudo à minha volta, não consigo me imaginar sem a mesma junto de mim, até para me auxiliar a atravessar esse quase intransponível Rubicão. Vocês são mais importantes do que possam imaginar.

Desejo não só vida longa, mas a eternidade para CC.

Do leitor de todas as horas

Henrique Perazzi de Aquino – jornalista e professor de História

Bauru SP, segunda, 16 de abril de 2018. 


OBS.: Nas fotos algumas das publicações deste HPA na melhor revista semanal deste nosso mundo. Baita orgulho deste HPA

domingo, 22 de abril de 2018

FRASES DE UM LIVRO LIDO (126)


ONTEM FOI DIA DE REVER RENATO BUENO POETAR DEBAIXO DO VIADUTO – ALGO DE SEU LIVRO “PALAVRA OCULPADA”

Sábado foi dia de mais um SARAU DO VIADUTO, aquele instigante evento ocorrendo ali debaixo do viaduto da Nações Unidas com a Duque de Caxias. Por ali já passaram nomes dos mais conhecidos no cenário do hip hop local, regional e mesmo nacional, além de expoentes da literatura dita como marginal, mas na verdade, uma juventude pulsando o que ocorre nas ruas e quebradas deste insólito país. Impossível não olhar para este evento e não se lembrar de um dos seus idealizadores na cidade, RENATO BUENO. Esse jovem bauruense criado no Geisel, estudante de Letras na USC, está todo sábado nas ruas do Calçadão da Batista na Biblioteca Móvel Quinto Elemento e hoje, com certeza, estará em mais um dos saraus. No Ato Pró-Defesa de Lula ocorrido domingo passado, 15/4, na praça Rui Barbosa, abrindo o leque dos convidados, antes de poetar, começou sua fala com um contundente: “Falar aqui não é um convite, pois quando é luta e causa a gente está aí” (https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/2074602422569756/). Renato faz poesia com a linguagem das ruas, pulsante e impulsante, sentida e cheia de um sentimento latente, o das lutas passadas, vividas e por vir. Meses atrás lançou um livro, o seu primeiro de poesias, o ‘PALAVRA OCULPADA’, edição do autor vendida de mão em mãos. Neste mesmo dia do ato na praça, ao vê-lo, pouco antes da sua fala digo estar chateado, pois até a presente data não havia tido a oportunidade de comprar sua obra. Não se fez de rogado, abriu a matula e me sacou um, com dedicatória e tudo (R$ 20 reais muito bem empregados). Dele extraio algumas poucas frases, poesia recortada por mim e aqui exposta para ajudar a divulgar este mais que belo livro, algo não só de lindo projeto gráfico, mas algo a encher este velho lobo do mar de esperanças, pois Renato está pronto e acabado para a contendas todas pela frente, desde as literárias até as libertárias. Sintam a força de sua verve:

- “O que coube em mim ocuLpou a palavra”.
- “Cachaça é um/ poema preso num gole/ soluçando poesia/ escrito em letras/ garrafais/ enquanto a vida/ aguardente”.
- “Viaduto é o teto/ salarial de quem só tem o mínimo”.
- “Sou mais o caminho/ que a chegada/ quem chega/ acaba/ só”.
- “Não tem Dorflex/ quando o músculo que dó/ é o coração”.
- “Lá fora o mundo conspira aqui dentro/ a gente transpira”.
- “Uns pregam amor/ outros só pregos”.
- “Pés perdidos – a gente troca os chinelos/ mas o problema é o caminho”.
- “Pra Uns lençol de fino linho/ Pra outros infelizmente é o fim da linha”.
- “Quem se alimenta de ódio não pode querer/ amor/ de sobremesa”.
-“Conheça teus índios/ e saberá quem tu és/ Conheça teus negros/ e saberá quem somos”.
- “Importante não é a cor dos dentes/ mas os motivos do sorriso”.
-“Enquanto o sinal da fábrica/ soar igual ao sinal da escola/ não será um bom sinal”.
- “Privatizam os lucros/ Estatizam as perdas”.
- “O que não couber na palavra/ Caberá num abraço”.


OUTRA COISA
QUERIDO
"Son miles cada día, bolsas y bolsas que cansan a los carteros y asombran a los empleados de la Superintendencia de la Policía Federal de Curitiba, en el estado brasileño de Paraná. Luiz Inácio Lula da Silva, detenido bajo acusaciones de corrupción, recibe cada día un correo masivo. Las cartas invariablemente comienzan con la frase “Querido presidente Lula”. La catarata postal fue idea de la ex presidenta Dilma Rousseff, que difundió la dirección de Lula: Rúa Professora Sandália Monzon, 210 - Santa Cândida, Curitiba/PR, CEP (código postal) 82640-040, Brasil", nota publicada hoje no melhor jornal diário da América Latina, o argentino Página 12.

sábado, 21 de abril de 2018

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (50)


CONVERSANDO COMIGO MESMO – CONSIDERAÇÕES E ACHAMENTOS

Hoje é sábado, rola aqui na vitrolinha um Miles Davis e logo mais a noite terei o inenarrável prazer de assistir mais um show da cantante e encantante Cida Moreira, no SESC Bauru. A vida rola, não tão solta como dantes, pois estamos vivendo, mesmo os canarinhos desdizendo do assunto, tempos sombrios, perversos, cruéis e de evidente retrocesso. Temo pelo meu filho, 24 anos e querendo cursar mais algo pra ver se chega em algum lugar. Eu mesmo, do alto dos meus 57 anos (rodo mais um ano em junho) não quero chegar em mais nada a não ser fazer o que estiver ao me alcance para reverter essa bosta onde esses malditos golpistas nos enfiaram. Que mais posso querer? Ainda ouço a música que gosto, isolado aqui neste bunker mafuento, beirada do rio pestento denominado Bauru, vivo no meio de papéis, livros e memória. E como ela dói.

Ontem a noite mais uma das certezas destes tempos. Fui tentar ser agradável com um bestial, deases cegamente endossando tudo o ocorre, contente da vida com as transformações para pior. Ele na casa dos 65 anos, nos cruzamos no caixa de um bar e lhe disse querendo ser agradável, pois mesmo na baita adversidade da linha de pensamento e ação, havia até então um respeito: “Quem lhe mandou um recado e disse queria muito conversar contigo foi o ______”. E lhe declinei o nome. Sua fisionomia se transformou: “Mande aquele comunista pra PQP. Não quero mais papo com gente assim”. Fechou questão. Deu para entender? Acabou visceralmente a cordialidade até então existente. Essa trégua de décadas permitindo um diálogo entre os de opiniões divergentes, hoje já não é mais possível. Os tais de verde-amarelo nas ruas fecharam questão e as portas. Se antes, ainda conversavam, hoje não mais. Hoje já são muito agressivos, amanhã sei lá o que farão conosco se nada fizermos já para dar um breque na bestialidade ululante.

Quer outro exemplo da profunda desilusão com o ser humano, esses mesmo aqui já citados, os canarinhos. Li isso ontem num comentário nas redes sociais. O sujeito postou algo mentiroso contra o ex-presidente Lula e foi chamado a atenção: “O que você está espalhando é mentira e sei que sabes disso. Te conheço, seu grau de instrução, seus conhecimentos, me diga, como pode espalhar mentira nesse momento de tanta incerteza?”. Sua resposta, de forma curta e grossa é o exemplo de como caminham as coisas: “Eu sei que o que reproduzi é mentira, mas isso faz parte do jogo”. Entenderam? Faz parte do jogo mentir descaradamente, tudo para atingir mais rapidamente objetivo dos mais sórdidos. Minha conclusão: Não existe mais ética, verdade, sensatez e muito menos amor ao próximo, dignidade e possibilidade de entendimento entre as partes.



Eu reajo, ainda me permitem escrever. Alguns sinais me tocam profundamente. Num sinal ontem um jovem nipônico me vendo estacionar o carro, pede se pode fotografar o adesivo no vidro do meu carro (Lá está: "Yes, nós somos bananas - Fora Golpistas"). Permito e ele sorri: “Queria ter a tua coragem e colocar um desses aqui no meu estabelecimento, mas...”. No bar noturno, uma senhora se aproxima: “É o sr Aquino?”. Na afirmativa me enche de orgulho: “Sou mãe de um grande amigo do seu filho. Leio o que escreve e acompanhei o desenvolvimento intelectual do seu filho, hoje um ser pensante, liberto, livre, cabeça consolidada. Sei que isso tem a sua cara”. E me disse mais, naqueles momentos em que você se vê sem chão, orgulhoso de si mesmo, todo pimpão. Mas de que vale isto diante deste doentio momento do país? Vale que, talvez, por ter dado a educação adequada ao filho o tenha exposto demais, pois pensando e não agindo como manada, vai dizer o que pensa e isso sempre causa problemas, ainda mais diante de um regime de exceção como as amostras sugerem estarmos adentrando. 

O CD do Miles Davis termina na vitrolinha, o cão Charles deitado ao meu lado de barriga para cima se alvoroça quando levanto para mudar a música. Volto no tempo e saco um do selo Revivendo, “Mário Lago – 90 Anos”. Se soubessem ter sido ele a vida toda comunista, muitos não mais vão querer ouvir mais nada de sua lavra. Cá estou neste feriado de Tiradentes na capital da Terra Branca, reduto hoje de coxinhas múltiplos e variados, aumentando o som e indo lavar meu cão neste sol que se alevanta lá fora. Em Bauru, além do Sarau do Viaduto e do show da Cida Moreira, nada mais a movimentar a modorrenta vida. Ah, como queria estar lá no Acampamento de Curitiba em solidariedade ao ex-presidente Lula e vivenciar ao vivo e a cores algo dessa resistência ainda possível. Sendo lá que as coisas hoje acontecem, em pensamento me transporto para lá enquanto o Lago canta uma velha música do Francisco Alves, “Fracasso”. Que feriado de bosta esse!


VERGONHA, VERGONHA, VERGONHA - POR ERIC NEPOMUCEMO
Um ótimo texto, publicado hoje no melhor jornal diário do nosso continente, o argentino Página 12 e pela pena de um dos melhores jornalistas brasileiros, mais lúcido que nunca nestes sombrios tempos:
https://www.pagina12.com.ar/109617-verguenza-verguenza-verguenza

sexta-feira, 20 de abril de 2018

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (114)


ANÁLISE CONCEITUAL EM CIMA DE UMA FOTO
A foto é essa publicada hoje no único jornal que restou da mídia massiva bauruense, o Jornal da Cidade e estampa uma matéria sobre os desdobramento de repasses financeiros e sobre os procedimentos averiguativos do dia a dia da Funprev pelo vereadores. Primeiro o link da tal matéria: https://www.jcnet.com.br/…/funprev-tera-novo-aporte-so-em-2….


Eu viajo na maionese e sei que o faço. A Funprev administra hoje um caixa de inestimável desejo. Tem quem sonhe em ganhar na loteria e tem quem sonhe em ter um saldo daqueles em sua conta pessoal. Nós já tivemos em administrações anteriores gente da Câmara chegando a dizer que aquilo tudo era muita grana para ser administrada por um simples servidor municipal. Queria ele dar um jeito de aconselhar, ser uma espécie de mentor, cuidador ou mesmo o aplicador de algo de tamanha envergadura. Por sorte o cara não está mais na Câmara e hoje, tudo por lá é menos ousado.

Não venho aqui para discutir os repasses de dinheiro obrigatórios da Prefeitura, recolhidos dos funcionários e entregues ou não no caixa de quem um dia lhe garantirá a aposentadoria. Essa é outra história e tem tantos meandros que, num primeiro momento, diante de um caixa ainda muito alto, pelo que vejo os reajustes brecaram. Mas o que existe em caixa hoje, ainda é algo incomensurável diante de caixas tão baixos em instâncias outras do poder público (do das pessoas também). A cobiça sempre existiu. Se bobear e permitido fosse, muito daquilo já estaria rodando pela aí com promessa de pagamento futuro e até juras de joelhos dee pagar em dia.

Por sorte não são os nobres vereadores quem dão a palavra final no uso da grana, pois movidos por interesses variados e múltiplos, creio os servidores teriam muito mais dor de cabeça do que com a atual situação. Mas não foi por isso que divago sobre o assunto. Eles estão na foto a fiscalizar o bom uso da coisa, ou pelo menos é para isso que foram eleitos. Vereadores de um lado e servidor/diretor da Funprev de outro. Olho para a foto e penso cá com os meus botões: o que estaria passando na cabeça de cada um deles ali diante das explicações sobre repasses, caixas, uso mensal, com direito a juros, lucros e perdas? Trata-se de uma foto enigmática e difícil decifrar todo o seu potencial, tudo o que nela está contido.

Diante deste momento brasileiro, tudo perdido e pela hora da morte, bancarrota assumida, golpistas destruindo o que nos resta de nação, confesso que essa foto me tocou mais do que devia no dia de hoje. Eu dobrei o jornal, a deixei em primeiro plano e a carrego comigo durante o dia. Parava o carro no sinal e olhava em sua direção, a imaginação ia longe e voltava tão logo o sinal abria. Almocei com ela do meu lado, dava uma garfada e tentava me colocar na mente dos verereadores e da assistência. Fui fazer as necessidades e no momento de fazer aquela excessiva força também pensei muito (e com força) em como seria bom se pudessemos desvendar a mente humana.

Por fim, no final deste dia compartilho a foto com todos e afirmo, escrevo isso tudo não por desconfiança dos vereadores, longe disso. Eles estão ali cumprindo o que lhes cabe. A foto me caiu às mãos logo cedo, justamente quando pensava sobre o desdobramento da mente humana em relação ao dinheiro e achei pertinente um estudo alucinativo sobre o tema. A alusão feita aqui entre as situações e possibilidades são só para simples exercício mental, pois vivendo num mundo movido por dinheiro, esse assume exagerada importância, tudo girando em seu entorno e contexto e daí, a gente pensa e repensa, tanta coisa na mente, Me pus a imaginar o que estaria na mente de cada um ali naquele momento. Isso me fez passar o tempo e esquecer das dívidas. E por fim, que faria um simples mortal como eu se tivesse a senha do cofre do Tio Patinhas?

quinta-feira, 19 de abril de 2018

UMA MÚSICA (159)


VENDO A BANDA PASSAR E SEM NADA FAZER – A INDIFERENÇA/TRISTEZA NOS RODEANDO
Somos mesmo cagões. Mino Carta, meu jornalista sempre de plantão repete a todo instante: “Falta sangue na História do Brasil”. Uns podem dizer que o povo resiste. Sim, vejo a resistência, sou parte dela, mas a imensa maioria segue bovinamente. Ando pela rua e ontem no Calçadão da Batista sento num banco e me ponho a olhar para a fisionomia das pessoas. O momento atual é ruim para todos, mas não vejo nenhuma expressão de revolta na face das pessoas, tipo querendo virar a mesa. As explicações para essa apatia são muitas, algumas me contentam, outras não. Quem resiste e coloca a cara para bater contra esse estado de coisa, esse ilegítimo desGoverno golpista a nos apunhalar são poucos, muito poucos. Poucos se expõem. O mesmo Mino citado lá no alto voltou a dizer dias atrás: “Estive num evento grandioso antes da prisão de Lula e fiquei observando para os lados. Cheguei a triste constatação, não vai haver resistência, alguns falam, mas poucos estão de fato dispostos a sangrar pela devolução do país como o tínhamos. A maioria dos que que resistem não saem das palavras, nada mais”. Sei disto.

No sinal de trânsito, paro o carro e vejo um senhor cambaleante se aproximar, bem vestido, roupas simples, limpo, mas muito empobrecido e fazendo algo que até então nunca o tinha visto, esmolando nos sinais. Mora no Gasparini, o via varrendo sua calçada, sempre sorridente, cumprimentado a todos. Com a diminuta aposentadoria, diante do desolador quadro atual foi parar nos sinais. Me reconhece, dou o que tenho nos bolsos e sem saber como reagir, ofereço carona. Recusa, agradece e diz precisar de mais para pagar suas contas em atraso, dispensa vazia e permanecerá mais algumas horas por ali. Já era perto das 18h, saio quase em pratos e no jornal o economista à serviço da crueldade diz que tudo está se encaminhando a contento, que o país está sendo reparado. E nós o deixamos mentir descaradamente diante dos fatos comprovados na rua, dia após dia. Nem reagir o fazemos a contento.

A amiga liga, cabelereira conhecida, diz não poder mais gastar, investir em algo sem retorno. Os salões a chamam para trabalhar, mas tem que gastar para ir e voltar, comer no serviço e esperar que os clientes apareçam. E eles não surgem, permanece lá esperando e gastando o que não tem. Diz não querer mais trabalhar neste ramo e na ligação desaba, diz que conheço muita gente e se souber de alguém necessitando de faxineira, que a acione, faz qualquer negócio. Reafirma antes de desligar: “A situação piorou demais, nem os clientes que vinham em casa, esses sumiram de vez. O que aparecem são os querendo fiado, mas não posso mais trabalhar assim, pois alguns me prometeram pagar e hoje, passados meses, ficam bravos quando cobrados”. E na TV, vejo o ilegítimo presidente dizendo fora do país que o país hoje está melhor, tudo encaminhado, situação promissora. E nada fazemos para dizer nas ruas das mentiras repetidas todos os dias como gozação na nossa cara. Calados continuamos. Ruim era o barbudo que um dia fez algo de bom para todos, bons são os que hoje arruinaram o país.

As injustiças dessa vida todas se sucedendo e se repetindo a todo instante. Um quase vizinho chora copiosamente conversando comigo na esquina. Como consigo ser feliz, com ele numa situação desesperadora. Num sentido desabafo diz passar fome e em todos que vai buscar uma palavra amiga, quando o vem no desespero se afastam. “Dizem que nada existe à minha altura, mas a minha altura hoje é minha fome, eu tenho necessidade de comida. Eu nunca antes passei pelos bares da Rodrigues, nas vitrines aqueles salgadinhos e sempre tive dinheiro para compra-los, hoje tenho desejo de um simples salgado, o estômago, a cabeça e tudo em mim dói e nem para isso tenho algum”. Na outra esquina, parece brincadeira, o outro ficou doente e tirou licença, ao voltar, foi comunicado pelo enquadramento da nova legislação trabalhista vigente que estava dispensado e sem muitos direitos. Seu lamento dói fundo: "Onde irei arrumar outra coisa para fazer na vida na minha idade e com portas e mais portas se fechando?".

Como posso querer ir fazer algo com alegria diante de cenas iguais a essa se repetindo a cada virada de esquina. Tem muita gente no total desespero e os que ainda não chegaram neste ponto não estão se dando conta da situação estar só piorando, mais e mais. Como ajudar esses e todos os que clamam pelas ruas se a coisa pega também pro meu lado e se bobear logo mais posso estar na mesma situação? Como reagir e enfrentar o baú de maldades despejado sob nós e o povão com a cabeça a mil, completo parafuso?

Ligo a vitrolinha num velho LP do Chico Buarque de Hollanda, “A BANDA” e ao ouvir pela terceira, quarta vez entendo cada vez mais o que ele queria dizer com aquela banda passando e a gente só assistindo ,abatendo palma, mas ela passa e tudo continua. Entendo e choro. Não tenho vergonha de chorar, choro por todos que não posso estender a mão e ajudar. Choro pela reação que gostaria de ter neste momento contra nossos algozes, mas ainda não tive, aliás, eu também, vendo a banda passar:

“Estava à toa na vida/ O meu amor me chamou/ Pra ver a banda passar/ Cantando coisas de amor./ A minha gente sofrida/ Despediu-se da dor/ Pra ver a banda passar/ Cantando coisas de amor./ O homem sério que contava dinheiro parou/ O faroleiro que contava vantagem parou/ A namorada que contava as estrelas/ Parou para ver, ouvir e dar passagem./ A moça triste que vivia calada sorriu/ A rosa triste que vivia fechada se abriu/ E a meninada toda se assanhou/ Pra ver a banda passar/ Cantando coisas de amor./ Estava à toa na vida/ O meu amor me chamou/ Pra ver a banda passar/ Cantando coisas de amor./ A minha gente sofrida/ Despediu-se da dor/ Pra ver a banda passar/ Cantando coisas de amor./ O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou/ Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou/ A moça feia debruçou na janela/ Pensando que a banda tocava pra ela/ A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu/ A lua cheia que vivia escondida surgiu./ Minha cidade toda se enfeitou/ Pra ver a banda passar cantando coisas de amor/ Mas para meu desencanto/ O que era doce acabou/ Tudo tomou seu lugar/ Depois que a banda passou/ E cada qual no seu canto/ Em cada canto uma dor/ Depois da banda passar/ Cantando coisas de amor/ Depois da banda passar/ Cantando coisas de amor”. Eis o link: https://www.youtube.com/watch?v=OBDfWikT34M.

Se possível, não façam como esse contumaz chorão, louco para reagir, mas inerte, prostrado em sua poltrona e vendo a banda passar.