sábado, 17 de junho de 2017

RETRATOS DE BAURU (202)


HAROLDO É POLÊMICO, SABE DISSO, SAI ÀS RUAS PARA CONVERSAR E CONTAR HISTÓRIAS
Escolhi fazer perfis aqui daqueles que não possuem holofotes sob seus corpos, nem antes, nem nunca. Abro exceções, hoje uma delas. Esse personagem aqui retratado vivenciou boa parte da história de Bauru não como gerente principal, mas como coadjuvante, sempre ao lado de importantes acontecimentos. Tem muita história para contar e hoje, ainda vivenciando um intenso tratamento médico, sai às ruas, tendo um dos lugares preferidos o comércio de um amigo, Júlio, famosa casa de rações na Baixada do Silvino. Frequento o lugar e sempre que o vejo, ele me puxa pelo braço com uma pergunta e dela, uma longa conversa. Percebo, ele quer mais e mais conversar, contar histórias, rever muita coisa ainda não muito bem explicada desta cidade dita como “sem limites”. Ele tem a sua versão dos fatos e das pessoas, ou seja, cada um tem a sua e ouvir a dele, faz parte de uma tentativa de reconstituir algo ainda sem muita explicação, ou seja, contada pela metade.

HAROLDO P. AMARAL é um distinto senhor, morador do jardim Bela Vista. Esteve ao lado de parte significativa de gente da história desta Bauru, os dos grupos de poder constituído e só por causa disso, tem muita coisa a revelar. Hoje me puxa pelo braço na saída de uma loja e pergunta assim como quer tudo: “Você conhecia o seu Oswaldo Penna, o da revista Cadência?”. Digo que sim e isso é motivo para, postados na esquina, travemos um papo de quase uma hora. Claro, o interesse era em muito mais do que o Penna e assim se sucedeu. Quando lhe conto que, anos atrás, o memorialista, seu Pelegrina, me disse: “Antes não podia contar tudo o que sei, pois as pessoas ainda estavam vivas, mas hoje elas já morreram e até seus sucessores”. Ele ri e me diz: “Isso é um problema, pois não vai ter mais quem rebata o que diga. Prefiro contar agora e envolvendo muita gente viva, essa turma que hoje frequenta o poder, mas o faz um tanto perdidos”. Ou seja, ele quer abrir a caixa de ferramentas e isso, para qualquer interessado em ouvir histórias, rever o passado é algo auspicioso. Quem saber algo dele, pois bem, não entro em detalhes do passado, pois muitos poderão comentar sobre ele a partir deste texto. Fico com o que publicou de forma jocosa em seu facebook:

“Trabalhou como Artista na empresa Artista, na Prefeitura Municipal de Bauru, como agueiro.......tanto light quanto diet......sempre ao dispor..... na empresa DAE – Departamento de Água e Esgoto de Bauru. Estudou aprender a viver honestamente, sem dependência politica na instituição Cursando Universidade da Vida. Estudou Vida Plena e Bem-Estar na instituição de ensino UATI – USAC Universidade Aberta a terceira Idade, também na Unesp, no Centro Universitário IESB e na instituição SENAC. Frequentou O Liceu Noroeste e mora em Bauru”. Casado com Cleide Moretti, hoje aposentado, se diz um livre pensador liberal, a defender a religião Católica e o neoliberalismo, mas enxerga ter o país chegado num limite, quase irreversível, sem volta. Sente falta de ares onde possa dialogar, daí sai de casa e se posta ali na loja do amigo, onde reencontra pessoas, discute, fala e também ouve. Busca rever sua história e quer opinar sobre o futuro. Posso discordar de muitas das ideias e propostas do seu Haroldo, mas não me furto de ouvi-las, assim como se põe a ouvir as minhas. Prefiro as pessoas dispostas a dialogar, ele permite isso, não é arrogante, mesmo inflexível em algumas opiniões. Com o passar dos anos, hoje algo mais lhe movimenta a vida, fazer parte do Foto Clube de Bauru, algo a prolongar sua vida. Já das conversas e revelações futuras, ficamos de sentar em breve, mas antes quer que pesquise sobre que fim levou a coleção quase completa da revista Cadência doada ao então Museu Histórico Municipal, hoje fechado e sem data de reabertura. Vamos começar os trabalhos em breve. Falemos dele, pitacos para ampliar a conversa neste sábado onde o sol resolveu dar as caras lá fora. Ele sabe que, ao colocar a face fora da toca está sujeito a chuvas e trovoadas, ou seja, que venha a boa discussão, ácida, dura, doída, porém sem altercações.

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