terça-feira, 25 de abril de 2017

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (98)


BRASILEIROS RICOS SE MUDAM PARA LISBOA
Portugal se tornou a “meca para um mundo em crise”. É o que afirma a manchete e o texto de matéria publicada no Jornal da Cidade (www.jcnet.com.br), edição de ontem, segunda, 24/04/2017. Aparentemente, tudo parece lindo e os abastados brasileiros indo para lá de mala e cuia, mais por causas das tais facilidades, principalmente as da língua e da estabilidade existente naquele país. Hoje, segundo o que leio, já seriam 85 mil brasileiros com residência regular naquele país.

Só que nem tudo são flores nessa debandada. No caso brasileiro, as flores murcharam de vez com o advento do golpe institucional, quando assume o poder o ilegítimo presidente Michel Temer, também assumido golpista. A partir esse novo cenário, o país deixou de ter um Governo realmente autônomo, independente e, principalmente, perdeu sua soberania. O enfraquecimento foi sentido de cara no cenário internacional e no interno, a catástrofe é sentida a cada no ato promovido pelo já denominado (des)Governo. Não existe mais como contemporizar com esses, pois a destruição do país se faz presente em todos seus atos, um após o outro, no sentido de passar a borracha em algo consolidado ao longo de décadas. A economia está em frangalhos e as relações institucionais só pioram. Até o Judiciário, um dos últimos bastiões de credibilidade, perdeu de vez a sua e isso é sentido no desanimo com que a população os encara. O menor índice de aceitação de um Governo nas últimas décadas é o do atual. Pior impossível.

E como reage a população? Cada um ao seu jeito. A matéria não esclarece o principal motivo dessa debandada dos ricos brasileiros do país. Rico, em primeiro lugar, nunca foi bobo. A maioria explora o pobre, mas gosta de viver num lugar saudável, edificante e coisa e tal. Ajudaram a dar o golpe, mas hoje, com a ficha caindo pela besteira feita, muitos continuam usufruindo das benesses, mas preferem bater em retirada e tocar suas vidas em outras paragens. Quem pode faz isso? O rico faz descaradamente. Mas existem outros indo pelo mesmo caminho. Cito uma história de um casal, longe de ser considerados ricos e acabam de fazer o mesmo caminho, o de ir morar em Portugal.

Um casal de amigos carioca, ela aposentada do Governo do Estado e ele em vias de se aposentar de função no Governo Federal, acabam de se casar em Portugal na semana passada e fizeram por motivos outros. Ele, perseguido em seu local de trabalho por se opor aos golpistas, sofre perseguição e está tendo que antecipar sua aposentadoria, mas como possui cidadania portuguesa, moram juntos há anos, foram se casar na terra dos seus patrícios. Ela vai buscar a cidadania na convivência e moradia por lá. E por que escolheram Portugal? Sempre foram muito atuantes na política daqui, mas se desencantaram com o atual rumo das coisas e, reunindo forças partiram para um lugar mais palatável. Pensam que o povo brasileiro em sua imensa maioria está feliz diante do que vê ocorrendo à sua volta? Evidente que não, mas como não tem outra saída, resistem ao seu modo e jeito.

Conheço outro, um ferroviário aposentado que, cansado das bestialidades reinantes por aqui, conheceu o Uruguai, viu como podia transferir sua aposentadoria e receber seu soldo por lá, via Banco do Brasil, vendeu sua casa aqui e foi-se enquanto ainda lhe resta um tempo de vida saudável. Não é o fato em sair, de desistir do país, mas de não suportar novamente um regime perverso para com o povo. Quem enfrentou resistindo ao Golpe Militar de 64 sabe disso muito bem e, alguns desses, até pela idade, perderam a disposição de ter que enfrentar novamente algo similar. Tudo começa com essa onda de moralismo e fascismo já dobrando a esquina e atingindo a tudo e todos.

Eu mesmo, só não vou agora mesmo para Pasargada, por tres motivos. Primeiro, por não conhecer o caminho, depois por não ser amigo do rei e depois, pois ainda acreditar que algo ainda precisa ser tentado a mais nos próximos passos por essas plagas. Tenho um filho terminando a universidade (e o que será dele diante desse país tão bestificado?), uma esposa com anos de labuta antes da tão sonhada aposentadoria e eu, mesmo com 56 anos, ainda não conseguindo ter vencido na vida. Do contrário, ah, do contrário, flanaria primeiro pelo que ainda resta de América Latina livre e depois encontraria um cantinho bem distante da bestialidade e do medo coletivo que vejo reinar no meu país.

Portugal é só um dos lugares palatáveis pela aí...

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