quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

CARTAS (169)


MEUS VIZINHOS*
* Carta de minha lavra e responsabilidade publicada na edição de hoje do Jornal da Cidade - Bauru Sp, Tribuna do Leitor:

Vizinhos a gente não escolhe. Nem eles a nós. Os meus são gente da melhor qualidade. Escrevo de um casal parede meia aqui com o mafuá (a denominação de minha modesta residência). Chego cedo por aqui nesse 1º dia do ano e eles me dizem tudo ter corrido bem, nenhuma ocorrência fora do habitual na passagem do ano. Estão a lavar o quintal sujo pela urina do cão. Paro para conversar, ele sai e se oferece para lavar também o meu, todo cheio de folhas amarelas, caídas de uma árvore a cobrir a chão. É um lindo tapete. São meus inquilinos e, com toda certeza não se importariam se colocasse um carrinho de mercado defronte a casa deles. Iriam até ajudar a vigiar para ser devolvido ao verdadeiro dono. Interagimos que é uma beleza, num congraçamento humano tão necessário.

Nessa história de carrinho de mercado, lembro sempre deles. Eles trazem sempre um pra sua casa. Não possuem carro e vivem muito bem sem um quatro rodas na garagem. Vejo sempre o cara do mercado vir buscar os carrinhos com uma pick-up. Tudo tão simples. Outro dia o cara bateu em casa, pois saíram e deixaram o tal no meu quintal. Não se faz necessário polícia nenhuma fardada para intermediar tal relação. Ele lava meu quintal e conversamos. Diz de sua preocupação com essa roubalheira toda, não a das ruas, mas a dos políticos e se não seria melhor a volta dos militares. A prosa flui e tento lhe convencer de que, basta de exceções. Se os criamos e os larápios predominam nessa forma de Governo, nós mesmos temos que extirpá-los de lá, para que o fardado não venha impor algo além do que lhe é prescrito.

Conversando a gente sempre se entende. Falta muita conversa hoje em dia, principalmente entre vizinhos. Meus amigos Claudio e Luzia Lago tiveram sua casa assaltada ontem lá pelas bandas do jardim América e mesmo conhecendo todos os seus vizinhos, ninguém conversa com ninguém. Todos fechados em copas, nem um mero bom dia de saudação. Como podem querer buscar solidária ajuda entre gente desse naipe? Eu não preciso de um brutamontes aqui na casa ao lado, muito menos de um cão de guarda. Quero mais é gente como os que tenho aqui. Gente que conversa comigo, entra regularmente em casa, trata do meu cão quando viajo, conversamos amenidades no portão e a vida segue mais amena, gostosa, saborosa. Se os governantes não ajudam muito, desgraçando em muito nossas vidas, ao menos ter vizinhos em estado de graça é tudo de bom nessa vida.

Baita abracito aos meus dois prestimosos vizinhos, Amadja e Luciano. Imagino a dureza que seria, diante de tanta iniquidade, perversidade do lado de fora dos nossos portões, ainda não ter gente como eles aqui do meu lado. A vida seria bem mais dura. A minha segue leve bem por causa da presença deles por aqui.

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